Universidade Lusófona do Porto
Sobre Acontecimentos públicos e emoções coletivas
Do Acontecimento
Louis Quéré
Novembro
2021
Ter
16
Sinopse
Acontecimentos públicos e emoções coletivas
Muitos dos acontecimentos que nos afetam não são vividos diretamente por nós. São-nos relatados, apresentados (em textos, discursos, imagens) e comentados pelos media. E, no entanto, tais acontecimentos tocam-nos, assim como despertam emoções em certa medida semelhantes no público dos media. Estas emoções podem provocar comportamentos individuais e ações coletivas de vários tipos. Como explicar, por um lado, o poder emocional de certos acontecimentos públicos e, por outro, a convergência das reações emocionais suscitadas, quando não há encontro cara a cara? De que natureza são essas emoções coletivas? Para responder a essas perguntas, apoiar-me-ei, em parte, no trabalho de Gérôme Truc (cuja tese de doutoramento co-orientei) sobre as reações aos atentados terroristas e, eventualmente, sobre outros casos. Também discutirei o argumento segundo o qual, nas nossas sociedades atuais, a recepção dos acontecimentos é cada vez mais exclusivamente emocional. — Louis Quéré
Do Acontecimento
Numa época do cálculo, da regra e da prevenção surge, repentinamente, o inesperado, algo que interrompe o curso das coisas e ameaça o discorrer da vida. Numa espécie de paradoxo, quanto mais se antecipa o acidente mais este, ao surgir, se apresenta como catastrófico e intratável. Entende-se que, neste contexto, a ideia de Acontecimento, contingente e imprevisível, se tenha vindo a impor para dar conta de forças que excedem as formas históricas, venham elas da natureza, como uma catástrofe, ou do interior da história que fazemos, disseminadas como um incêndio ou uma epidemia. Existe um certo pânico perante esse excesso de força e a debilidade das formas, ainda que boa parte da cultura humana se tenha baseado na espera por um acontecimento decisivo, uma revolução, através da qual a paz ou a justiça possam vencer definitivamente. Disso, uns são testemunhas, outros anunciam, outros, cansados de esperar, perdem toda a esperança. Mas é apenas pela arte, pelo pensamento e pela técnica que se responde ao Acontecimento e se cria o labirinto onde, como com o antigo Minotauro, podemos estar próximos dele e da sua potência, sem a ilusão de o anular ou controlar.
Louis Quéré (1947) é um sociólogo francês, diretor emérito de pesquisa do CNRS - Centro Nacional de Pesquisa Científica e ex-diretor do Instituto Marcel Mauss (EHESS-CNRS). A sua investigação centra-se principalmente na sociologia da ação, na epistemologia das ciências sociais ou na etnometodologia. A sua abordagem inscreve-se no legado do pensamento de Jürgen Habermas, da hermenêutica de Hans-Georg Gadamer ou do pragmatismo de John Dewey e George Herbert Mead.
Muitos dos acontecimentos que nos afetam não são vividos diretamente por nós. São-nos relatados, apresentados (em textos, discursos, imagens) e comentados pelos media. E, no entanto, tais acontecimentos tocam-nos, assim como despertam emoções em certa medida semelhantes no público dos media. Estas emoções podem provocar comportamentos individuais e ações coletivas de vários tipos. Como explicar, por um lado, o poder emocional de certos acontecimentos públicos e, por outro, a convergência das reações emocionais suscitadas, quando não há encontro cara a cara? De que natureza são essas emoções coletivas? Para responder a essas perguntas, apoiar-me-ei, em parte, no trabalho de Gérôme Truc (cuja tese de doutoramento co-orientei) sobre as reações aos atentados terroristas e, eventualmente, sobre outros casos. Também discutirei o argumento segundo o qual, nas nossas sociedades atuais, a recepção dos acontecimentos é cada vez mais exclusivamente emocional. — Louis Quéré
Do Acontecimento
Numa época do cálculo, da regra e da prevenção surge, repentinamente, o inesperado, algo que interrompe o curso das coisas e ameaça o discorrer da vida. Numa espécie de paradoxo, quanto mais se antecipa o acidente mais este, ao surgir, se apresenta como catastrófico e intratável. Entende-se que, neste contexto, a ideia de Acontecimento, contingente e imprevisível, se tenha vindo a impor para dar conta de forças que excedem as formas históricas, venham elas da natureza, como uma catástrofe, ou do interior da história que fazemos, disseminadas como um incêndio ou uma epidemia. Existe um certo pânico perante esse excesso de força e a debilidade das formas, ainda que boa parte da cultura humana se tenha baseado na espera por um acontecimento decisivo, uma revolução, através da qual a paz ou a justiça possam vencer definitivamente. Disso, uns são testemunhas, outros anunciam, outros, cansados de esperar, perdem toda a esperança. Mas é apenas pela arte, pelo pensamento e pela técnica que se responde ao Acontecimento e se cria o labirinto onde, como com o antigo Minotauro, podemos estar próximos dele e da sua potência, sem a ilusão de o anular ou controlar.
Louis Quéré (1947) é um sociólogo francês, diretor emérito de pesquisa do CNRS - Centro Nacional de Pesquisa Científica e ex-diretor do Instituto Marcel Mauss (EHESS-CNRS). A sua investigação centra-se principalmente na sociologia da ação, na epistemologia das ciências sociais ou na etnometodologia. A sua abordagem inscreve-se no legado do pensamento de Jürgen Habermas, da hermenêutica de Hans-Georg Gadamer ou do pragmatismo de John Dewey e George Herbert Mead.
Info sobre horário e bilhetes
Ter
16.11
18:30
RivoliPequeno Auditório
Informação adicional
- Preço Entrada gratuita
Classificação etária 6+
Informação adicional Sessão falada em francês com tradução parcial em português