Retratos
Guilherme de Sousa & Pedro Azevedo
Fevereiro
2023
Sex
17
Sobre Já não sou a amar-te menos
Podemos olhar para o vosso espetáculo como um trabalho autobiográfico? De que forma? O que creem que este espetáculo pode revelar sobre vocês e o vosso universo enquanto artistas?
Pensamos que será fundamental ressalvar que este espetáculo não é autobiográfico. Na altura em que pensamos o projeto pela primeira vez, havia uma série de pontos de partida que efetivamente nos eram familiares e próximos, mas, logo, decidimos que isto não seria sobre nós (ainda que inevitavelmente acabe por ser, pois é um trabalho artístico e autoral). Há uma série de pontos e aspetos que sustentam a dramaturgia interna da peça e que são efetivamente autobiográficos. No entanto, o que fizemos foi servirmo-nos desses aspetos, e dar-lhes um outro contexto. Há um universo que pensamos estar a desenvolver enquanto artistas – a dimensão plástica dos trabalhos, o teatro sem “texto falado”, a inspiração num universo cinematográfico e a beleza da vida “normal”. No entanto, em simultâneo, também não queremos estar ancorados numa só coisa.
Durante o teu processo de criação, inspiraram-se em algum trabalho autobiográfico ou autorretrato?
Há sempre inspiração, há sempre referências e há sempre citações! Negar isto chega a ser um ato de hipocrisia, principalmente, porque vivemos numa era em que todos os dias somos bombardeados com imagens. Às vezes, é difícil encontrar o sítio certo para expor e apontar essas referências (principalmente, porque cada vez mais se procura resumir, sintetizar e anular vias de comunicação paralelas aos trabalhos: a folha de sala, as publicações, etc.), ou simplesmente não se quer citar as suas referências – talvez, numa lógica ingénua de fazer valer a máxima “eu tive esta ideia original". No caso deste trabalho, como noutros, há uma série de autores que estão sempre a pairar sobre o processo de criação (ainda que não sejam necessariamente trabalhos autobiográficos): Yorgos Lanthimos, Roy Andersson, Nadia Lauro, Jean Dominique Bauby, Erwin Wurm, e por aí fora. As referências são fundamentais no momento de tomar decisões.
Como seria a moldura ideal para o retrato de uma relação? O que fica fora de campo?
Não acreditamos que exista “a” moldura ideal para o retrato de uma relação. Essa moldura deve variar, consoante as diferentes relações, os “limites” de cada uma (e de cada um dos elementos) e o momento, em que passa a tornar-se desconfortável para alguém de dentro. A intimidade de cada um é a intimidade de cada um, e isso fará com que aquilo que transborde de um retrato possa ser, mais ou menos, percetível/transparente, com mais ou menos detalhe dessa intimidade. No nosso caso, a moldura ideal para o retrato da nossa relação é (literalmente) nebulosa, pouco percetível e parcialmente ficcionada. O que fica fora de campo deverá manter-se inconclusivo.
E dentro de campo: como olhar de dentro para dentro, a dois? O que se olha? O que se retrata? Como se joga?
O exercício de “funcionar a dois” é bastante fluido, no nosso caso. Fazer esse exercício de “olhar de dentro para dentro”, é-nos natural e prática comum dentro da relação. Neste caso, trata-se apenas de decidir o que queremos ou não passar para fora, uma vez que o levantamento de material em si, para nós, é simples: o que fica na filtragem, que seletivamente utilizamos para inserir no trabalho ou que deambula entre os limites da relação amorosa e profissional é que será intencionalmente calculado. E na verdade, reforçamos que este trabalho não está preso a uma ideia direta de “autorretrato”, mas antes a uma ideia de suposição – “E se…?”.
Podemos olhar para o vosso espetáculo como um trabalho autobiográfico? De que forma? O que creem que este espetáculo pode revelar sobre vocês e o vosso universo enquanto artistas?
Pensamos que será fundamental ressalvar que este espetáculo não é autobiográfico. Na altura em que pensamos o projeto pela primeira vez, havia uma série de pontos de partida que efetivamente nos eram familiares e próximos, mas, logo, decidimos que isto não seria sobre nós (ainda que inevitavelmente acabe por ser, pois é um trabalho artístico e autoral). Há uma série de pontos e aspetos que sustentam a dramaturgia interna da peça e que são efetivamente autobiográficos. No entanto, o que fizemos foi servirmo-nos desses aspetos, e dar-lhes um outro contexto. Há um universo que pensamos estar a desenvolver enquanto artistas – a dimensão plástica dos trabalhos, o teatro sem “texto falado”, a inspiração num universo cinematográfico e a beleza da vida “normal”. No entanto, em simultâneo, também não queremos estar ancorados numa só coisa.
Durante o teu processo de criação, inspiraram-se em algum trabalho autobiográfico ou autorretrato?
Há sempre inspiração, há sempre referências e há sempre citações! Negar isto chega a ser um ato de hipocrisia, principalmente, porque vivemos numa era em que todos os dias somos bombardeados com imagens. Às vezes, é difícil encontrar o sítio certo para expor e apontar essas referências (principalmente, porque cada vez mais se procura resumir, sintetizar e anular vias de comunicação paralelas aos trabalhos: a folha de sala, as publicações, etc.), ou simplesmente não se quer citar as suas referências – talvez, numa lógica ingénua de fazer valer a máxima “eu tive esta ideia original". No caso deste trabalho, como noutros, há uma série de autores que estão sempre a pairar sobre o processo de criação (ainda que não sejam necessariamente trabalhos autobiográficos): Yorgos Lanthimos, Roy Andersson, Nadia Lauro, Jean Dominique Bauby, Erwin Wurm, e por aí fora. As referências são fundamentais no momento de tomar decisões.
Como seria a moldura ideal para o retrato de uma relação? O que fica fora de campo?
Não acreditamos que exista “a” moldura ideal para o retrato de uma relação. Essa moldura deve variar, consoante as diferentes relações, os “limites” de cada uma (e de cada um dos elementos) e o momento, em que passa a tornar-se desconfortável para alguém de dentro. A intimidade de cada um é a intimidade de cada um, e isso fará com que aquilo que transborde de um retrato possa ser, mais ou menos, percetível/transparente, com mais ou menos detalhe dessa intimidade. No nosso caso, a moldura ideal para o retrato da nossa relação é (literalmente) nebulosa, pouco percetível e parcialmente ficcionada. O que fica fora de campo deverá manter-se inconclusivo.
E dentro de campo: como olhar de dentro para dentro, a dois? O que se olha? O que se retrata? Como se joga?
O exercício de “funcionar a dois” é bastante fluido, no nosso caso. Fazer esse exercício de “olhar de dentro para dentro”, é-nos natural e prática comum dentro da relação. Neste caso, trata-se apenas de decidir o que queremos ou não passar para fora, uma vez que o levantamento de material em si, para nós, é simples: o que fica na filtragem, que seletivamente utilizamos para inserir no trabalho ou que deambula entre os limites da relação amorosa e profissional é que será intencionalmente calculado. E na verdade, reforçamos que este trabalho não está preso a uma ideia direta de “autorretrato”, mas antes a uma ideia de suposição – “E se…?”.