Lívia Nolasco-Rózsás

Há múltiplos objetos digitais, os quais se podem manifestar enquanto erros, vírus, componentes físicos, partes de código, um conjunto de números binários ou uma série de dados. São “objetos que ganham forma num ecrã ou se escondem nos fundos de um programa de computador, constituídos por dados ou metadados regulados por estruturas ou esquemas” (Hui, 2016, 1). Para além de serem constituídos por dados, podem ser obras de arte contextualizadas numa exposição e, como tal, tornadas interpretáveis aos seus observadores humanos. Bruno Latour afirmou que o objetivo curatorial da exposição Iconoclash (ZKM | Karlsruhe, 2002) era convidar os visitantes a tornarem-se “amigos de objetos interpretáveis” (Latour, 2002, 17), uma frase que foi buscar a Miguel Tamen (2001). A exposição incluía vários objetos digitais e analógicos, alguns dos quais eram obras de arte. Claro que não era a primeira vez que uma exibição sublinhava a natureza objetal das obras de arte e, recentemente, na ontologia e na estética, ressurgiu uma abordagem centrada no objeto. Tal resultou num “formalismo esquisito” que implica que observador e obra de arte se fundam num terceiro objeto (ver Harman, 2020), independentemente do suporte da obra de arte.
Esta palestra analisará os objetos digitais e o seu contexto planetário por meio de estudos de caso fornecidos pelo projeto “Beyond Matter. Cultural Heritage on the Verge of Virtual Reality”. Este projeto de investigação internacional, colaborativo e assente na prática dedicou-se à mudança contemporânea na produção e mediação de arte visual em contextos institucionais que se deve em larga medida ao desenvolvimento acelerado e à omnipresença e uso generalizado de computação e tecnologia de informação, nomeadamente realidade aumentada e virtual mas também inteligência artificial.