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ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures

Crónica das Margens. Lição n.º 4

Julho

2021

Qua
7
ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures
Crónica das Margens*

Lição n.º 4
CRL – Central Elétrica. André Braga, Cláudia Figueiredo, Pedro Vilela, Questionamentos Brasileiros
Por Gisela Leal

O Jardim do Marquês é, histórica e organicamente, um espaço de confluências da cidade do Porto. Ali se encontram freguesias (Santo Ildefonso, Bonfim e Paranhos) e gerações de portuenses – é um dos mais importantes centros de campeonatos de ‘sueca de jardim’ (agora interrompidos a peso da solidão de uma franja mais velha da população que ali encontra um indispensável espaço de socialização), ladeado pelas gerações mais novas que transitam quotidianamente dentro da cidade e entre concelhos. Do recente metro ao autocarro, aos extintos tróleis, cujas redes elétricas aéreas uniam o Porto, desde os anos 1960, a concelhos vizinhos (Gondomar e Valongo), passando pela antiga estrada nacional que ligava o Porto ao norte do país, agora Rua de Costa Cabral, a zona mais alta da cidade foi sempre uma área privilegiada de entrada e saída da cidade. E, por isso, o Marquês é também uma zona de cruzamento de vários estratos do tecido socioeconómico da cidade. Mais recentemente, a presença da comunidade de imigrantes brasileira, ainda que não demográfica e geograficamente localizada e identificada, pode ser empiricamente sentida.
É deste ponto nevrálgico da cidade que parte a CRL – Central Elétrica para a sua participação no curriculum da ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures. Desta base geográfica e de uma constatação: a do “quão mal-educados fomos na escola sobre a nossa relação com o Brasil”. André Braga e Cláudia Figueiredo convocaram Pedro Vilela, um artista brasileiro residente no Porto a integrar o projeto, o qual, por sua vez, realizou mais de cinquenta entrevistas com imigrantes brasileiros a residir no Porto com o objetivo de traçar um cartografia afetiva de como a comunidade brasileira se apropriou do território. Partindo de um guião comum a todas as entrevistas, Pedro distinguiu quatro mapas: o da existência, o do afeto, o político e o da memória. Convidou então quatro performers brasileiros a residir em permanência ou intermitentemente em Portugal: Andrezza Alves, Marcondes Lima, Thaís Guimarães e Vinicius Massucato. Esta equipa cruzou as cartografias pessoais com os depoimentos recolhidos por Pedro Vilela e as cartografias daí resultantes, num processo criativo coletivo a que foi ainda adicionada uma nova camada ficcional.
Daqui resulta o espetáculo Travessia que será apresentado esta semana na Quinta do Covelo e que assume um formato itinerante, colocando o espectador num lugar nómada, tendo de se confrontar com os outros, tendo de se deslocar, cansar e deixar coisas para trás, como um migrante, para avançar. Da aula dada por quatro brasileiros e dois portugueses ficou-nos a impressão de que ainda falta deixar coisas para trás também nesta relação luso-brasileira. A CRL – Central Elétrica pretende que este espetáculo seja o início de um novo ciclo programático, onde a descoberta da cidade em transformação se fará pela procura de outros espaços, de esquecimento e de resistência.

*Crónica das Margens - Gisela Leal, Cronista das Margens, acompanhará as expedições trans/inter/fronteiriças da ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures, fazendo o levantamento de coordenadas e o reconhecimento dos territórios sensíveis explorados pelos "novos cartógrafos" da cidade nesta sala de aula a céu aberto. Diariamente, em modo grafado e/ou gravado, fará o resumo da matéria dada.

© Alexandra Fernandes

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