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ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures

Crónica das Margens. Lição n.º 7

Julho

2021

Seg
12
ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures
Crónica das Margens*

Lição n.º 7
Curbes_ESAP, Esferas Relacionais em Lugares Públicos
Por Gisela Leal

A aula do coletivo Curbes_ESAP não poderia ser mais pertinente num momento de pandemia como o que experienciamos, em que os limites da proximidade física ao/do outro são constantemente questionados, ameaçados, redefinidos e até policiados. Para nos ajudar a refletir sobre o que podem ser zonas de conforto por oposição a zonas de tensão ou de ameaça neste novo modelo de contacto social, o coletivo explorou com os participantes uma série de exercícios que resultaram do seu processo de investigação.
Curbes_ESAP é um coletivo constituído por seis estudantes da pós-graduação em Curadoria, Cultura Urbana e Práticas Espaciais da ESAP que se propôs tomar a envolvente da ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures, o Jardim do Marquês, para mapear as fronteiras invisíveis que se estabelecem entre os limites íntimos e a esfera social, no que chamam de “coreografias de negociação social”. Partindo dos conceitos desenvolvidos por Edward T. Hall no livro A dimensão oculta (1966), da ideia de que nos organizamos por bolhas (da íntima, pessoal, social e pública), cada uma com medidas específicas, como as do distanciamento que hoje nos é imposto, as Curbes dedicaram-se a uma observação atenta e contínua da ocupação do Jardim do Marquês para desenhar esta proxémica, cunhada por T. Hall. Sobre o resultado deste mapeamento, foram adicionadas camadas através de grafismos representando diferentes perceções, como medo, confiança ou segurança, ou seja, explorou-se o modo como nos aproximamos e afastamos uns dos outros, e quais as forças que fazem expandir ou retrair essas bolhas.
A agilidade com que as Curbes envolveram os participantes foi notável, fazendo-os mover por todo o espaço do Jardim, observando-o, interagindo com ele: recorrendo a um objeto produzido para o efeito, os alunos foram convidados a fazer uma primeira marcação no solo de círculos definidos pelas medidas referentes às quatro bolhas (íntima, pessoal, social e pública), ao que foi depois acrescentada a segunda camada, mais livre, de como cada um faria expandir ou retrair essas bolhas – enquanto não chover, estas marcas continuarão no chão do Jardim.
Durante o passeio, enquanto nos questionávamos sobre o que seria feito dos jogadores de sueca cujas mesas encontrámos vazias, ficámos a saber que a COVID-19 alterou mais esta realidade: desde que voltou a ser permitido o uso daquele espaço, em março passado, os jogadores não voltaram ao Marquês, deslocaram-se para outros espaços da cidade. Aquelas mesas permanecem vazias. Junto à Biblioteca Popular de Pedro Ivo, temos por enquanto as mesas de pingue-pongue que a Inês Moreira e a Clarice Cunha conceberam para a ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures. São amovíveis e podem ser transportadas e montadas noutros locais. Esperamos que ainda venham a servir outros jogadores, de outras aulas sem fronteiras, pelo menos na cidade.

*Crónica das Margens - Gisela Leal, Cronista das Margens, acompanhará as expedições trans/inter/fronteiriças da ARK Porto Escola dos Confins e de Nenhures, fazendo o levantamento de coordenadas e o reconhecimento dos territórios sensíveis explorados pelos "novos cartógrafos" da cidade nesta sala de aula a céu aberto. Diariamente, em modo grafado e/ou gravado, fará o resumo da matéria dada.

© José Caldeira / TMP

© José Caldeira / TMP

© José Caldeira / TMP

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