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Entrevista

Amala Dianor

Setembro

2022

Qua
7
Nos dias 16 e 17 setembro, a apresentação de Via Injabulo [Alegria], da companhia de dança sul-africana Via Katlehong, abre a temporada 22/23 do TMP. A propósito do período de residência da companhia, em junho, no Campo Alegre, conversámos com Amala Dianor sobre Emaphakathini (uma das duas coreografias que integram o espetáculo). 

Como surgiu o convite por parte da Via Katlehong? Já tinhas trabalhado ou conhecias o trabalho da companhia? Como está a decorrer o processo de criação de Emaphakathini?

Antes de mais, estou muito contente por me terem convidado para trabalhar como coreógrafo neste projeto da Via Katlehong. É uma companhia muito conhecida em França. Sigo-a há mais de 10 anos. O primeiro espetáculo deles marcou-me imenso. Geralmente, nós [artistas], estamos muito sensíveis a tudo o que se passa na dança fora da França. Têm uma energia fortíssima e uma dança muito ímpar. Nas danças sul-africanas temos a pantsula, a gumboot. Eu venho da cultura hip hop. Tivemos a dança house, e agora, a pantsula. Foi isso também que me interessou nesta colaboração, interrogar um pouco os bailarinos e as músicas que eles usam atualmente.

De que forma cruzaste as referências do teu trabalho com as características muito específicas da pantsula?

A partir da dança que me propuseram trabalhar, a singular pantsula, interessava-me saber como é que o grupo se iria revelar no interior do movimento. O movimento era apenas um pretexto para se desvendarem enquanto indivíduos. Sobretudo, enquanto indivíduos no seio de um grupo. No fundo, o trabalho consiste em libertar o indivíduo para que se possa revelar através da dança. Desta forma, afastam-se da estrutura formal da interpretação, de executar uma coreografia. Podem gerar uma outra forma de comunicação, de interação entre si e, também, com o público.

A dança é um elemento fundamental para a construção de uma identidade coletiva. Como descreverias a importância do pantsula no contexto social sul-africano?

Quando me convidaram para fazer esta criação foi a minha primeira vez na África do Sul. Não sabia muito bem o que esperar. A partir de França, sabia que tinha havido o Apartheid, as diversas variantes da Covid-19, o Mundial de Futebol, e outros acontecimentos. Mas, para mim, este país era uma realidade longínqua. Tentei imaginar o que seria essa geração pós-Apartheid. Que geração é esta de artistas sul-africanos? Onde é que se situam? Estão além-fronteiras? Ou estão algures entre dois mundos que fazem deles o que são, estando mais num extremo do que noutro? Estava muito curioso por conhecer a realidade dessa juventude. Quando iniciei a criação estive em imersão total, acolhido pelos diretores artísticos da companhia, Steven Faleni e Buru Mohlabane. Foi interessante porque, subitamente, estava mergulhado nas suas realidades, nos seus ritmos de vida. Senti as pulsações que me fizeram compreender que estão ainda, de certa forma, num processo de busca. E é isso que me interessa enquanto coreógrafo.

© Pedro Sardinha

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