Entrevista
Raquel André
Dezembro
2022
Qui
15
Em Coleção de Espectador_s, o palco é do público. Raquel André apresenta um espetáculo que é um museu, esta quinta e sexta-feira, 15 e 16 de dezembro, no Grande Auditório do Teatro Rivoli. Um grande arquivo de testemunhos, tal como nos explica a criadora do projeto.
Como é que se coleciona espectador_s? Como é que se põe alguém que coleciona, a falar e a escolher/a partir da sua coleção?
Para este espetáculo, Coleção de Espectador_s, realizo uma oficina com a Cláudia Gaiolas durante seis dias. Trabalhamos com um grupo de 10 espectadores/as e temos vários exercícios preparados. A dramaturgia e o esqueleto do espetáculo estão já montados e, depois, a partir dos exercícios que realizámos com estas pessoas, vamos introduzindo as histórias de cada uma delas. Antes da criação do espetáculo, criei um website (collectionofspectators.com) que tem um grupo de instruções que fui lançando ao longo de vários meses, onde espectadores/as de diversos lugares do mundo puderam participar. É um arquivo digital com as memórias de espectadores/as. Para o espetáculo, utilizei essa metodologia, essa ideia de instrução. Durante a oficina, temos algumas instruções para que os/as espectadores/as consigam organizar as suas memórias. Na verdade, são histórias que transportam consigo, e esta instrução permite organizar a memória. Por exemplo, fazer um mapa cronológico da vida enquanto espectador(a). Identificar alguns eventos artísticos como espetáculos, livros, concertos de música, arquitetura, estátuas, artes plásticas. Tudo o que considerarmos eventos artísticos. E, assim, contar a sua história de vida a partir destes eventos artísticos que transformaram, de alguma forma, a sua vida.
Como caracterizarias o grupo de pessoas selecionado para as apresentações no Rivoli?
A minha vontade é ter sempre um grupo o mais diverso possível, seja na idade, na geração, no background social, económico ou cultural. Procuro trabalhar com pessoas que tenham histórias de vida e experiências muito diferentes. E foi o que aconteceu aqui no Porto. Ainda bem que conseguimos ter este grupo completamente diferente... Um espectador com 18 anos, uma espectadora com 67 anos — é uma diferença de idades muito grande... Há pessoas que moram no Porto, mas que nasceram no Brasil ou noutros locais em Portugal. Há, nesse sentido, alguma diversidade no grupo.
Neste espetáculo, convidas um grupo de espectadores/as a sair da plateia e a subir para o palco, com as suas histórias. Que possibilidades e lugares tornam-se possíveis de aceder com esta transposição, esta transgressão?
Aí está, para mim, o movimento mais importante e que me deu vontade de fazer este espetáculo: devolver o trabalho artístico que, normalmente, tem a voz do artista que está a criar (e que conta com as suas equipas técnicas e artísticas) aos espectadores/as. Devolver, de certa forma, o que é que fica na memória destas pessoas. Na verdade, esse gesto é muito rápido. É muito maior do que aquilo que os artistas produzem, toca em lugares muito diferentes de pessoa para pessoa. Conta a sua história... Às vezes, histórias tão particulares — de transformação ou de memórias engraçadas ou trágicas — ou narrativas pessoais. Esse gesto é muito rápido porque todos/as nós temos, por exemplo, uma playlist de músicas que seria a banda sonora da nossa vida, muitos/as de nós terá livros que contam a nossa história. É um movimento muito rápido. E, aqui, a prioridade é dar espaço, dar um lugar — neste caso, um palco — para que essas histórias sejam contadas. Devolver essas memórias aos espectadores e espectadoras, mas também aos artistas e profissionais que tornam possível um espetáculo.
Enquanto espectadora, tens alguma memória marcante aqui no TMP que queiras partilhar connosco?
A verdade é que como não sou do Porto, nunca vi muitos espetáculos cá. Vi um no DDD – Festival Dias da Dança, em 2018, de uma companhia norueguesa (Carte Blanche), de Bergen, em que os bailarinos passavam duas horas a girar sobre si próprios. Foi algo catártico para mim porque estava a sentir o meu corpo também a girar. Foi durante imenso tempo, a sala estava completamente cheia. E eu estava a pensar como é que nós, espectadores/as, estando sentados e passivos, podemos viver algo tão catártico. Apesar de o corpo estar parado, também estávamos a rodopiar com os bailarinos.
Como é que se coleciona espectador_s? Como é que se põe alguém que coleciona, a falar e a escolher/a partir da sua coleção?
Para este espetáculo, Coleção de Espectador_s, realizo uma oficina com a Cláudia Gaiolas durante seis dias. Trabalhamos com um grupo de 10 espectadores/as e temos vários exercícios preparados. A dramaturgia e o esqueleto do espetáculo estão já montados e, depois, a partir dos exercícios que realizámos com estas pessoas, vamos introduzindo as histórias de cada uma delas. Antes da criação do espetáculo, criei um website (collectionofspectators.com) que tem um grupo de instruções que fui lançando ao longo de vários meses, onde espectadores/as de diversos lugares do mundo puderam participar. É um arquivo digital com as memórias de espectadores/as. Para o espetáculo, utilizei essa metodologia, essa ideia de instrução. Durante a oficina, temos algumas instruções para que os/as espectadores/as consigam organizar as suas memórias. Na verdade, são histórias que transportam consigo, e esta instrução permite organizar a memória. Por exemplo, fazer um mapa cronológico da vida enquanto espectador(a). Identificar alguns eventos artísticos como espetáculos, livros, concertos de música, arquitetura, estátuas, artes plásticas. Tudo o que considerarmos eventos artísticos. E, assim, contar a sua história de vida a partir destes eventos artísticos que transformaram, de alguma forma, a sua vida.
Como caracterizarias o grupo de pessoas selecionado para as apresentações no Rivoli?
A minha vontade é ter sempre um grupo o mais diverso possível, seja na idade, na geração, no background social, económico ou cultural. Procuro trabalhar com pessoas que tenham histórias de vida e experiências muito diferentes. E foi o que aconteceu aqui no Porto. Ainda bem que conseguimos ter este grupo completamente diferente... Um espectador com 18 anos, uma espectadora com 67 anos — é uma diferença de idades muito grande... Há pessoas que moram no Porto, mas que nasceram no Brasil ou noutros locais em Portugal. Há, nesse sentido, alguma diversidade no grupo.
Neste espetáculo, convidas um grupo de espectadores/as a sair da plateia e a subir para o palco, com as suas histórias. Que possibilidades e lugares tornam-se possíveis de aceder com esta transposição, esta transgressão?
Aí está, para mim, o movimento mais importante e que me deu vontade de fazer este espetáculo: devolver o trabalho artístico que, normalmente, tem a voz do artista que está a criar (e que conta com as suas equipas técnicas e artísticas) aos espectadores/as. Devolver, de certa forma, o que é que fica na memória destas pessoas. Na verdade, esse gesto é muito rápido. É muito maior do que aquilo que os artistas produzem, toca em lugares muito diferentes de pessoa para pessoa. Conta a sua história... Às vezes, histórias tão particulares — de transformação ou de memórias engraçadas ou trágicas — ou narrativas pessoais. Esse gesto é muito rápido porque todos/as nós temos, por exemplo, uma playlist de músicas que seria a banda sonora da nossa vida, muitos/as de nós terá livros que contam a nossa história. É um movimento muito rápido. E, aqui, a prioridade é dar espaço, dar um lugar — neste caso, um palco — para que essas histórias sejam contadas. Devolver essas memórias aos espectadores e espectadoras, mas também aos artistas e profissionais que tornam possível um espetáculo.
Enquanto espectadora, tens alguma memória marcante aqui no TMP que queiras partilhar connosco?
A verdade é que como não sou do Porto, nunca vi muitos espetáculos cá. Vi um no DDD – Festival Dias da Dança, em 2018, de uma companhia norueguesa (Carte Blanche), de Bergen, em que os bailarinos passavam duas horas a girar sobre si próprios. Foi algo catártico para mim porque estava a sentir o meu corpo também a girar. Foi durante imenso tempo, a sala estava completamente cheia. E eu estava a pensar como é que nós, espectadores/as, estando sentados e passivos, podemos viver algo tão catártico. Apesar de o corpo estar parado, também estávamos a rodopiar com os bailarinos.