15.º Festival Porta-Jazz

PROGRAMA

31/01 sex

17:00 – Masterclass com Agustí Fernández (ES)
Momento de partilha e contacto com o histórico pianista espanhol, que tem vindo a moldar os discursos da improvisação ao longo de mais de meio século de intensa atividade. Conta com mais de 150 discos gravados ao lado de nomes maiores do jazz e música improvisada como Evan Parker, Nate Wooley, Peter Evans, e é membro da London Jazz Composers Orchestra e Blue Shroud Ensemble. Compositor, intérprete, sideman e líder, Agustí Fernández traz consigo uma bagagem cheia de valor, que será o mote perfeito para a narrativa desta sessão, onde iremos acolher músicos, estudantes e ouvintes, curiosos para escutar e questionar.

18:15 – Bloco 1 – Palco do Grande Auditório

Joana Raquel "Queda Áscua" (PT)
Procurando um som acústico que cria uma certa alusão à música erudita de câmara, este repertório acolhe a espontaneidade e assenta no conceito de canção. Na procura de um equilíbrio entre o pré-concebido e o inventado, a música vive do contraponto, do seu produto harmónico e procura ser rítmica. Joana Raquel é uma escritora exímia, uma intérprete vocal plena de recursos inebriantes, com um timbre que estimula os sentidos e arrepia a pele. Apresenta-nos o seu trabalho “Queda Áscua”, editado com Carimbo Porta-Jazz, somando este a outros projetos nos quais participa, para os quais compõe e onde se integra destacadamente como uma das figuras da nova geração de músicos portugueses de maior valor. Aqui, a poesia tem um papel de destaque e dita a construção do conteúdo musical, desenhando a linha condutora no seu processo de composição.

Agustí Fernández / Liudas Mockunas (ES, LT) - Parceria Improdimensija
Um diálogo entre dois dos mais destacados músicos e improvisadores da Europa. Com um sólido percurso, o veterano pianista Agustí Fernández - que assinalou sete décadas no ano passado - tem sulcado caminhos na música improvisada e sido amplamente reconhecido como um dos músicos espanhois de vanguarda, com uma discografia de mais de uma centena e meia de edições. Liudas Mockunas é saxofonista e um incansável explorador, lidera a plataforma Improdimensija, ponto de confluência internacional na Lituânia, onde imperam a liberdade de expressão, a atitude disruptiva e a dianteira artística da música improvisada. Um encontro de gigantes, experientes artistas e nomes incontornáveis, para um concerto de forte componente improvisada, certamente desafiante, que irá obrigar o tempo a parar.

21:30 – Bloco 2 – Grande Auditório

Marques/Cabaud feat O'Gallagher & Williams "Wabi-sabi" (PT, AR, US)
O tempo vai longo desde que Gonçalo Marques e Demian Cabaud são parceiros na música. Desta vez convidaram o histórico baterista Jeff Williams e o aclamado saxofonista John O’Gallagher, expoentes máximos do jazz nova-iorquino, para um passeio pelas areias movediças das suas composições originais. Destaca-se o imenso currículo e discografia destes dois vultos internacionais: desde os anos ´70 que Williams tem gravado e tocado ao lado de Lee Konitz, Dave Liebman, Paul Bley, Stan Getz, entre tantos outros, e editou seis discos com a sua música original; John O’Gallaghar é um destacado elemento nos projetos de artistas Maria Schneider, Kenny Wheeler e Michael Formanek, e é líder em diversas formações que tocam a sua música, contando com doze edições discográficas. “Wabi-sabi”, disco editado pelo Carimbo Porta-Jazz, centra-se num conceito milenar provindo da cultura japonesa, remete-nos para a apreciação do tempo presente, a aceitação de que a perfeição não existe e que a ilusão do seu alcance retira o foco daquilo que é real. É, por isso, tempo de viver o aqui e o agora, escutar, ver e sentir. Trazer ao momento atual a atenção plena e deixar o restante para depois.

Ursa Maior (PT, ES)
Um projeto especial e único, concebido para celebrar os 15 anos do Festival Porta-Jazz. Ursa Maior reúne uma pequena multidão de músicos ligados à Porta-Jazz, num ensemble monumental que reflete a ambição, o movimento fervilhante e o espírito de colectivo que são atributo desta comunidade. Entre a exploração controlada, som primordial ou filigranas miríficas, esta super-formação apresenta a música improvisada como um festim exuberante de comunhão e partilha.

23:30 – TMP Café

ESMAE JAZZ + jam session
Convite ao curso de jazz da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo do IPP - Porto, para apresentação de um concerto protagonizado por um dos seus combos, como mote de abertura à jam session. O palco ficará aberto aos músicos que queiram juntar-se, sendo esta uma prática incontornável em qualquer festival de jazz, nomeadamente com a presença de músicos nacionais e internacionais, onde a partilha e o intercâmbio aqui proporcionados são pontes de enorme valor para enriquecimento da comunidade.


01/02 sáb

15:00 – TMP Café - Rivoli

ART´J e Conservatório de Música do Porto
Convite aos cursos de jazz do Conservatório de Música da Jobra e do Conservatório de Música do Porto para apresentação de um momento partilhado durante a tarde de sábado, que pretende dar destaque aos estudantes da área, garantindo-lhes o contacto com uma situação real de mostra pública, num contexto desafiante como é o de um festival de jazz. Estes estudantes do ensino secundário terão um momento dedicado no programa, onde mostram o trabalho desenvolvido nas aulas de combo, partilhando com o público aqueles que são alguns dos promissores sons da geração vindoura do jazz nacional.

16:00 – Bloco 3 – Palco Grande Auditório + Subpalco

PAIRA (PT, ES)
É em torno de um repertório escrito por todos os membros que os PAIRA apresentam o seu trabalho, editado pelo Carimbo Porta-Jazz, envolto numa estética que funde a composição com a improvisação livre. Sendo a reinvenção das composições em tempo real a única norma deste grupo, o resultado é (in)determinado tanto pelo acaso como pela escolha. Pairar implica uma suspensão no tempo e no espaço, onde o quarteto procura por leveza, flexibilidade e rápida transformação, características que surgem da improvisação e da liberdade que lhe está subjacente. Convidam-nos a desfrutar, a navegar na dicotomia da estabilidade e instabilidade e a escutar os seus diálogos em pleno ar.

How Noisy Are The Rooms? (DE, CH, AT) - Parceria Bezau Beatz
Trio eclético e provocativo oriundo de três pontos do centro da Europa – Alemanha, Suíça e Áustria – reunido no seio da música experimental e improvisada que floresce no festival anual Bezau Beatz, com quem a Porta-Jazz tem estabelecido um intercâmbio. A proposta deste ano para integrar o Festival Porta-Jazz compreende a participação destes três músicos de referência no meio europeu, que procuram neste projeto testar a compreensão perante as diferentes perspetivas sobre o som, emitindo uma forte e constante energia com os elementos a chocarem entre si, em explosão sonora. Espera-se anarquia criativa, sons vocais que evocam culturas distantes, labirintos de manipulação eletrónica e incansável percussão ritualista.

18:15 – Bloco 4 – Pequeno Auditório

João Próspero "Sopros" (PT)
João Próspero é um acérrimo admirador da obra literária de Haruki Murakami, a ponto de incorporar na sua natureza o teor inquietante dessas histórias, que se desenrolam em contextos aparentemente banais, mas que, ao tornar a página, se convertem em autênticas odisseias impressionistas. É infinda a parada de personagens que surgem em catadupa, umas após as outras, todas elas albergando uma aparente fachada de normalidade que, rapidamente, colapsa, dando lugar à alucinação. Quem conhece Murakami sabe que, para o escritor, a música é um processo de criação constante, a par e passo com o enredo, em circuitos intermináveis de novelos sem desenlace, que desconcertam o leitor à primeira oportunidade. “Sopros” é a transdução de sinal que João Próspero procura entre o universo de Murakami e o seu processo de compor música, originando o seu disco de estreia, editado com Carimbo Porta-Jazz.

Emmanuelle Bonnet Quartet (CH, DE) - Parceria AMR - Genève
A ligação entre a Porta-Jazz e a AMR – Genève pressupõe a partilha de programação em ambos os festivais anuais promovidos por cada uma das associações de músicos, bem como a realização de duas residências artísticas com elementos propostos por ambas as partes. Uma sinergia que tem vindo a ligar Porto e Genebra e a promover, assim, a apresentação de projetos já estabelecidos ou o estímulo à criação de novas propostas originais. Desta vez, o tempo é dedicado ao quarteto de Emmanuelle Bonnet, um coletivo que se foca na improvisação e experimentação coletiva, construindo através da liberdade dos sons e texturas, o seu discurso no momento presente. 

21:30 – Bloco 5 – Grande Auditório

José Soares “SOMA” (PT, AR, IL) - Parceria Porta-Jazz / Guimarães Jazz #10
José Soares criou o ensemble SOMA para desenvolver a décima edição da residência artística concretizada em 2023 no festival Guimarães Jazz, do qual resulta um espectáculo gravado ao vivo e editado pelo Carimbo Porta-Jazz. É um jardim de inícios; um jogo em que a prudência fica de fora; um salto em direção ao erro inventivo. É desenhar o som com os dedos. É um cortejo ao encontro. A música explora a ligação do som enquanto corpo material informe, a ligação entre o erro e a oportunidade, a utilização de fragmentos musicais como gavetas de começos. Reúne influências da música experimental, noise e contemporânea que, juntamente com a artista visual, criarão um ambiente imersivo e enigmático. Para além da música contemporânea, as composições e imagens terão como pedra de toque textos de Gonçalo M. Tavares, Robert Musil, Gastón Bachelard, Clarice Lispector e Maria Gabriela Llansol. Agora é tempo de ver ou rever esta criativa proposta multidisciplinar, por uma equipa artística internacional, que eleva o conceito de adição, na apreciação do todo e das partes

Fragoso Quinteto “Canta Derrocada” (PT)
Fragoso Quinteto é o grupo de música original de João Fragoso, contrabaixista e compositor oriundo de Coimbra, que assentou arraiais no Porto após alguns anos de vida na capital. Apresenta “Canta Derrocada”, o segundo disco com esta formação, editado com Carimbo Porta-Jazz, depois de “Dura Natureza” em 2018, pela Cena Jovem Jazz.pt. Ouvem-se canções sem palavras, improvisação, exploração tímbrica, traços que desenham o terreno comum entre estes músicos. Com eles, João Fragoso constrói a sua expressão artística, na procura de um caminho entre os sons e os pensamentos. Ouve-se o sublime entendimento entre cinco caminhantes que se entregam ao percurso de olhos firmes no horizonte e desprovidos de quaisquer redes de segurança para além da confiança extrema que depositam no seu corajoso líder e do equilíbrio de que dispõe no limiar de um precipício. Ouve-se cada um dos seus passos neste lugar intenso, indelével e profundo. “Canta Derrocada” é o som de uma voz a ecoar na infinitude da paisagem, cujo retorno nos chega enorme, camada após camada, perdurando no tempo, como se a memória nos pudesse, alguma vez, atraiçoar.

23:30 – TMP Café

Rui Miguel Abreu + jam session
DJ set de Rui Miguel Abreu, crítico de música em permanente actividade desde 1989 e que atualmente escreve na revista Blitz, no Expresso e em rimasebatidas.pt, publicação digital que dirige, além de ser colaborador regular da revista internacional We Jazz. Autor de vários programas na Antena 3, incluindo a emissão semanal Notas Azuis focada no universo do jazz contemporâneo, Rui Miguel é igualmente um DJ ocasional. Pioneiro na audição e disseminação do hip-hop e da música electrónica, sempre procurou fazer pontes nas viagens musicais que regularmente propõe a partir da sua internacionalmente reconhecida colecção de discos - foi uma das figuras nacionais selecionadas para o segundo volume do imponente livro Dust &.Grooves, trabalho do fotógrafo Eilon Paz que documenta a comunidade global de colecionadores de vinil. A partir da cabine, Rui Miguel Abreu irá partilhar o seu particular gosto musical, para deleite de todos os presentes. A noite segue com palco aberto para jam session


02/02 dom

11:30 – Sala de Ensaios

Diversão / Improvisação
Tempo. Ter calma, saber esperar, ou então, andar sempre na correria, com falta de tempo para isto e para aquilo. E se os relógios não existissem? Ou, existindo, pudessem parar de contar os segundos e as batidas do coração e, assim, deixar de ditar que temos de ir? Venham connosco para lugar nenhum, nesta viagem sem tempo, onde crianças e adultos se vão encontrar ali no plano dos sonhos e onde, juntos, vamos poder parar para escutar, olhar, sentir e tocar. Onde tudo estará suspenso, mesmo aquilo que, normalmente, nos impede de experimentar algo que nunca fizemos antes. Será isto tudo improvisar?

17:00 – TMP Café - Rivoli

Coro Instantâneo
O Coro Instantâneo vai acontecer no TMP Café antes do início dos concertos de sábado no 15º Festival Porta-Jazz. Todo o público que possa estar já no Teatro Rivoli e todo o restante que venha interessado em participar, irá compor um coro tão simples quanto isto: sem necessidade de qualquer preparação prévia surgirá o desafio para se usarem as vozes presentes como instrumentos de um ensemble improvisado. Assim, sem mais nem menos. Pretende-se proporcionar um lugar de desmistificação perante o ato de cantar, de improvisar, partilhar e comunicar, orientado por cantores experientes, que guiarão o coro por uma viagem em liberdade. O coro será dirigido por Almut Kühne, cantora residente em Berlim, que se destaca como intrprete de Cage, Luigi Nono ou Helmut Lachenmann, artista multidisciplinar ativa no campo da improvisao, com performances a solo de grande virtuosismo e visceralidade, bem como da instalação e arte sonora.

18:15 – Bloco 6 – Pequeno Auditório

GODUA “STOP” (PT)
A música escrita por Duarte Ventura e Hugo Ferreira vem espelhar a procura de identidade sonora para este quarteto, tendo como ponto de partida os conceitos de espaço e de simplicidade. No processo de construção do álbum que aqui apresentam, uma edição do Carimbo Porta-Jazz, decidiram criar espaço para destacar o importante papel do local onde todo o trabalho se desenvolveu, incluindo os ensaios e a gravação - o Centro Comercial Stop - um incontornável pólo convergente para inúmeros músicos no Porto. Um quarteto de jovens valores, com tempo adiante para nos darem a conhecer as suas perspectivas sobre a construção musical e a partilha. 

Sonic Tender (PT) - Parceria Robalo
A Associação Robalo é uma congénere da Porta-Jazz, sediada em Lisboa desde 2015, que para além do seu festival anual, tem um projeto editorial - Robalo Music - no qual se integra o disco apresentado aqui por Sonic Tender, “Odd Objects”. O trio Sonic Tender procura «transmutar fontes sónicas num objeto sonoro unificado» e, de facto, esta música não se circunscreve à interação entre os diferentes componentes, mas é uma fusão de vozes e seus respetivos timbres numa única unidade, composta por várias camadas. Neste aspeto, embora algum do material sonoro possa aludir à música livre, representa uma rutura radical com ela.

21:30 – Bloco 7 – Grande Auditório

Demian Cabaud “Árbol Adentro” (AR, PT)
Sob o título "Árbol Adentro" o décimo álbum do contrabaixista argentino enquanto líder, editado com o Carimbo Porta-Jazz, mergulha na inspiração poética do ilustre Octavio Paz e continua a tradição já estabelecida pelo quinteto em anteriores incursões, caracterizada pela liberdade musical, improvisação ousada e uma busca incansável para expandir os limites da arte musical. Abraçam com mestria alguns elementos da música tradicional argentina, fundindo-os harmoniosamente com a fluidez do jazz contemporâneo. O resultado é uma experiência musical verdadeiramente única que transcende as barreiras culturais e emociona os ouvintes. "Árbol Adentro" não se destaca apenas pelo seu virtuosismo instrumental, mas pela habilidade do quinteto em capturar a essência e a complexidade emocional dos versos do escritor. Esta celebração entre a palavra escrita e a expressão sonora apresenta-se como um testemunho de como a música pode amplificar a beleza da poesia, fundindo duas formas de arte para criar uma experiência única e irrepetível. Demian Cabaud é um músico de renome, estabelecido em Portugal há vinte anos, sempre em proveitosas colaborações com músicos da vanguarda internacional e em projetos de enorme destaque, contribuindo ativamente para a superação de barreiras estilísticas e conceptuais e focando-se na música como expressão espiritual, de partilha intemporal, que vem do interior para ser entregue ao mundo em simples gestos, sob a forma de sons. 

Ensemble Mutante #2 - Kaja Draksler
Para a segunda edição do que se pretende ser um espaço de criação e experimentação por encomenda – o Ensemble Mutante – foi convidada a extraordinária compositora e improvisadora eslovena Kaja Draksler, que conceptualizou uma peça para piano, piano preparado, vocoder microtonal e três vozes, a partir de material literário de dois poetas americanos: Dean Young e Robert Frost. Foi após assistir à performance do projeto de Mané Fernandes “matriz_motriz”, a propósito da parceria entre a Porta-Jazz e a AMR Genève, que integrou este concerto no seu festival anual, que Kaja Draksler ficou motivada para trabalhar com as três cantoras portuguesas. Este concerto será preparado em residência artística no Espaço Porta-Jazz nos dias que antecedem o Festival. Reunindo universos musicais distintos – da música improvisada à música contemporânea – este ensemble procura uma linguagem híbrida em total liberdade interpretativa. Uma anti-retórica feita da gramática de cada uma das intérpretes, democrática no seu processo criativo e aberta à contaminação.

23:30 – TMP Café

Baile Swing
Para fechar o Festival em tom de festa, o público que subir ao TMP Café será recebido com uma jam session dedicada ao estilo swing, liderada pelo trio de Ricardo Moreira, convidando todos os que se queiram juntar ao baile. Tudo corre bem quando se juntam os pés de chumbo aos experimentados bailarinos, no meio de tantos outros que estarão de copo na mão sem conseguir parar de mexer. Pretende-se criar um momento de lazer e de convívio, pontuando o final do 15º Festival Porta-Jazz com energia intensa e com a boa disposição que emerge invariavelmente neste contexto.