Saltar para conteudo

Sinopse

Rentrée 23/24

Remontagem / Peça Original de 1997

Francisco Camacho

Gust9723

Setembro

2023

Sex
15
Sáb
16

Sinopse

Na sinopse de apresentação a “Gust” que escrevi em 1997 como dramaturgista da peça, as primeiras duas frases diziam o seguinte: “Um trabalho sem tema de antemão. Mas com título predeterminado, antecedendo a obra.” Em 1997, o título que antecedia e predeterminava a peça de Francisco Camacho referia-se a uma fotografia de Jeff Wall, “A Sudden Gust of Wind” (Um Súbita Rajada de Vento, 1993). Tal como naquela foto, em “Gust” corpos movem-se devido a causas e forças externas, complicando a noção de livre vontade. Camacho imaginou esses corpos-projéteis habitando uma paisagem desolada, construindo por entre escombros e sombras de mundos imaginários um lugar onde o acidente traz consigo a promessa da desejada mudança. 

Considerada por muitos como a obra mais emblemática de Camacho da década de 90, a construção de “Gust" é enquadrável enquanto “devising performance”: toda a peça se construiu sem um guião pré-definido e ao longo de um processo intensamente colaborativo de meses com xs dançarinxs e demais colaboradorxs.

Hoje, passados 26 anos da estreia de “Gust” no Teatro Rivoli, uma sinopse para “Gust9723” teria que começar do seguinte modo: “Gust 9723” retrabalha um trabalho-sem-tema de antemão de 1997. Trabalho sem tema, mas com título e gestos e cenário e atmosfera e sons e temporalidade pré-dados. No entanto, todos esses pré-dados não necessariamente predeterminam a peça hoje. Antes, todos esses pré-dados indicam caminhos que podem ou não ser trilhados; que podem ou não ser abandonados. Ou seja, hoje, o nosso trabalho com o trabalho-sem-tema de antemão estreado em 1997 foi o de fazer com que este “Gust9723” venha não do (seu) passado, mas de uma renovada vontade de lhe oferecer um (outro) futuro. 

Esse outro futuro está indissocialvelmente ligado aos corpos que agora se agregam para (re)dançar “Gust.” Seis do cast de 1997 (Begoña Méndez, Carlota Lagido, Filipa Francisco, Marta Coutinho, Miguel Pereira, Rolando San Martín), e nove que se juntam agora ao projeto (Beatriz Marques Dias, Beatriz Valentim, Bruno Senune, Francisco Rolo, Hugo Marmelada, João Oliveira, Magnum Soares, Mariana Tengner Barros, Sofia Kafol). Ou seja, quinze vidas partilhando uma paisagem desolada. Entre todas essas vidas, uma ponte de vinte e seis anos, construída com tudo o que o passar do tempo provoca, agrega, destrói e possibilita. Por entre o cast de 1997, não apenas mudanças na vida profissional, ou nos países de residência, ou nas capacidades físicas dos corpos, mas até mesmo a tragédia de uma morte. Entre xs novxs dançarinxs, o desafio de dar corpo a uma obra estreada quando muitos ainda eram criança e alguns ainda nem sequer haviam nascido. E, para todxs que participam neste “Gust9723”, o desafio de re-habitar uma peça criada e dançada pela primeira vez, literalmente, num outro mundo, num outro planeta. 

Em 1997, construiu-se “Gust” sobre os escombros e as sombras da paisagem imaginária representada na foto de Wall. Por sua vez, Wall construíra essa foto inspirado numa gravura japonesa do século XIX. Desde sempre passados refuturados. Futuros repassados. Já ali, na sempre fugidia origem, o movimento oscilando entre o coreografado e o espontâneo. Nessa oscilação, cada acidente fortuito, abraçado como acontecimento, promete a inesperada mudança. Havia ainda (há ainda) uma outra imagem de referência para a peça: “Radeau de la Méduse” de Géricault, onde o desespero na iminência da salvação se encena. Géricault tomou a vasta superfície da tela e a transformou em palco para reencenar um acontecimento histórico onde forças da natureza condicionam as ações dos corpos em situação-limite, à mercê dos elementos. Sob a sombra da morte e num sobreviver precário, extremo, a redenção dependerá dos caprichos do clima, dos ventos, e da vontade de viver. Perante o horizonte da morte, o único gesto que importa é dar as mãos. Hoje, tal frase, reescrita a partir da sinopse de 1997, deve ser lida como diretriz dramatúrgica de “Gust9723.” 

Tal como esta, também de então, mas já outra, porque transcrita aqui e agora: “Gosto de que nesse tempo escarificado pela catástrofe haja lugar para a alegria. (Foi Walter Benjamin quem escreveu: a nossa imagem da felicidade está indissoluvelmente ligada à imagem da redenção.)” — André Lepecki

dança

fantasia

catástrofe

natureza

© José Caldeira/TMP

© José Caldeira/TMP

© José Caldeira/TMP

© José Caldeira/TMP

© José Caldeira/TMP

Óleo sobre tela A Balsa da Medusa (1818–1819) de Théodore Géricault representa o naufrágio da fragata Medusa em 1816 através de um amontoado de corpos masculinos, desfalecidos ou vívidos, em diferentes posições, numa jangada de destroços.

© DR

Info sobre horário e bilhetes

Sex

15.09

19:30

Sáb

16.09

21:30

RivoliGrande Auditório

bilhetes

Informação adicional

  • Preço 
    12€
  • Duração 
    1h40
  • Classificação etária 
    16+

Acessibilidades do espetáculo

Audiodescrição
Acessível a pessoas em cadeira de rodas
Acessível a pessoas em cadeira de rodas
Texto
Luzes estroboscópicas ou intensas

Texto biografia autores

Francisco Camacho dirigiu 21 espetáculos de grupo e 20 a solo, incluindo peças para palco e outros para espaços não convencionais, a par de 11 obras em coautoria e várias outras em contexto pedagógico, nas áreas da dança e do teatro. Trabalhou para Paula Massano, Alain Platel, Carlota Lagido, Lúcia Sigalho, Filipa Francisco, Miguel Moreira e Tónan Quito, destacando a colaboração regular com Meg Stuart. Fundou e dirige a EIRA. Apresentou-se na Europa, América, África e Ásia. Recebeu os prémios Bordalo/Casa da Imprensa (1995 e 1997) e ACARTE/Maria Madalena de Azeredo Perdigão (1994/95 e Menção Especial em 1992/93).


Coapresentação com:
Centro Cultural de Belém (CCB)

Ficha técnica

  • Direção artística e coreografia 
    Francisco Camacho

    Dramaturgia
    André Lepecki

    Música
    Sérgio Pelágio

    Cenário
    Rafael Alvarez

    Desenho de luz e direção técnica
    Frank Laubenheimer

    Assistente de direção artística
    Pietro Romani

    Interpretação
    Beatriz Marques Dias, Beatriz Valentim, Begoña Méndez, Bruno Senune, Carlota Lagido, Filipa Francisco, Francisco Rolo, Hugo Marmelada, João Oliveira, Magnum Soares, Mariana Tengner Barros, Marta Coutinho, Miguel Pereira, Rolando San Martín, Sofia Kafol

    Músicos
    Sérgio Pelágio (guitarra eléctrica e acústica, eletrónica), Mário Franco (contrabaixo e baixo eléctrico), Alexandre Frazão (bateria)

    Novas gravações (2023) / edição e remontagem da banda sonora original (1997)
    André Tavares

    Direção de produção
    Lucinda Gomes

  • Produção executiva e gestão financeira
    Teresa de Brito

    Produção executiva
    Tiago Sgarbi

    Estagiária
    Andreia Marinho

    Fotografia
    Cláudio Marques

    Produção
    Eira

    Coprodução
    Teatro Municipal do Porto, CCB – Centro Cultural de Belém

    Apoios 
    República Portuguesa - Cultura|DGArtes – Direção Geral das Artes, CML|Polo das Gaivotas, FIL

    Agradecimentos
    Silvia Real, Vânia Silva

    Agradecimento especial 
    António Câmara Manuel, Cristina Piedade, David Miguel, Felix Santana, Isabel Peres, João Galante, João Samões, Nines Gómez, Paula Pereira, Ronald Burchi e Sara Vaz, que colaboraram na criação original em 1997, assim como aos coprodutores Acarte/ Fundação Calouste Gulbenkian e O Acto.

    Esta remontagem é dedicada à memória de Paula Castro (1968-2007), que integrou o elenco original de intérpretes de Gust.

Subscrevam a nossa newsletter e recebam todas as novidades sobre o TMP.

close